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Thursday 28 September 2006

epicur... hotel praia verde


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A C&L sabe...

A edição n.º 8 da epicur, leva-nos até ao Hotel Praia Verde, com este texto da autoria de Alfredo Saramago e imagens da C&L.
Pág.s 62/ 3/ 4


Verde, verde, que te quiero verde…

( Federico Garcia Lorca)

Quando cheguei pela primeira vez ao Hotel Praia Verde foram estes versos de Federico Garcia Lorca que lembrei. Tenho várias manias e uma delas é a frequente recorrência a uma frase que, por qualquer razão, me prendeu a atenção. Sei que aborreço as pessoas próximas em dias de longa e permanente enunciação. Agora foi esta.
Chego ao Hotel e logo me vem …verde, verde, que te quiero verde. Entro na sala ou no quarto, olho pelas janelas e …verde, verde, que te quiero verde. Chego à varanda e outra vez me vem o …verde, verde, que te quiero verde! A minha Mulher compreende mas já não me pode ouvir.
Neste caso tenho muita razão: o Hotel chama-se Praia Verde, está situado na Praia Verde, está construído no meio de verde. Das varandas do Hotel, todas a mirar o Atlântico, apenas se vê o verde dos pinhais, o azul do mar e o branco de algumas moradias dispersas na vegetação.
Quando gostamos de uma coisa interiorizamos esse sentimento e não necessitamos da linguagem para evidenciá-lo para nós próprios. Quando temos necessidade de transmitir, pela fala ou pela escrita esse mesmo sentimento vemo-nos aflitos para encontrar os adjectivos adequados para o classificar
Os adjectivos gastam-se por uso indevido mas não temos mais remédio senão utilizá-los da maneira que entendemos mais própria para não caírem no faraónico saco das vulgaridades.
Vem isto a propósito do Hotel Praia Verde e da dificuldade em que me encontro para classificá-lo.
De uma maneira muito pouco ortodoxa mas eficaz para quem me lê, alinho algumas informações de maneira concisa porque, dizendo pouco é uma forma aproximada de se dizer bem…


hotelpraiaverde | brochure

Abriu no início do ano
Tem 40 quartos e oitenta camas.
Aparthotel
Grande sala de pequenos almoços
Restaurante
Bar
Cinco minutos da praia
Quartos e sala de cores muito claras.
Boas madeiras, xistos pretos.
Piscina abrigada de ventos, abrigada do levante.
Hotel como uma pousada moderna integrada perfeitamente na paisagem .
Espaço de grandes dimensões
Atmosfera suave
Óptimo serviço
Ruas verdejantes, moradias brancas escondidas em jardins e em pinheiros
Estabelecimento concebido para descanso e paz.
Calma, muita calma.
Construído em comprimento, apenas com r/c e primeiro andar.
Cores e linhas integradas na paisagem
Aberto à plenitude da Natureza
Tempo de dolce far niente, de contemplação
Magia do prazer.
Joie de vivre.
Lugar de preguiça, digo bem: lugar de preguiça.


Porquê?
Porque a preguiça é desejada como um bem a que todos os homens devem ter direito. E quem a deseja tem dela um conceito amável, feliz, até mesmo voluptuoso, no desejo, passageiro ou não, de nada fazer. A preguiça é um estado de espírito, para não dizer um estado de alma, e soa no discurso como um momento privilegiado da existência.
Vamos ver se consigo estender fios de significações convincentes entre a preguiça e o Hotel.
A preguiça é muito mais do que a falta de cumprimento de um dever, ou a fuga a um trabalho, é um estado de espírito donde podem surgir surpreendentes verdades que podem iluminar uma vida. A preguiça pode começar a entender-se, no seu melhor sentido, como um vazio que dispensa a plenitude. O seu vazio não é uma catástrofe mas uma experiência constitutiva da própria existência.
A preguiça não é contemplação inerte e dócil, é um caminho de travessia, uma operação contínua da imaginação sobre o intelecto e da linguagem sobre a representação. É uma higiene indispensável a uma sobrevivência lúcida num mundo pesadíssimo pelas investidas de metafísicas esquecidas, pelos dramas concretos da existência, os quais formam a matéria prima de uma vida banal, ordinária, com a qual quase todos os homens, um dia, se vêem confrontados. É uma espécie de caminho de meditação, de demagogia do nada transformado em primeira virtude. A preguiça deve ser considerada como um seguro que vem ao encontro de quem se afoga na multiplicidade de significações, na obsessão de um sentido para a história, nos oceanos estúpidos de informação contínua de todos os meios que procurámos que chegassem até nós.
E, de uma forma mais pragmática que entra pelo nosso quotidiano, preguiçar é fugir ao trabalho que temos pela frente.
Este Hotel da Praia Verde é o lugar mágico para preguiçar.
Será necessário mais para se ser feliz que ter uma paisagem à frente que parece ter sido desenhada por um pintor romântico? Por diante um pinhal salpicado de casas brancas, ao fundo, por cima de um céu azul forte, o mar e aqui, aqui no Hotel, o conforto de uma vida aprazível.
Se o mundo fosse justo e se os deuses quisessem, seria aqui que eu passaria as minhas preguiças, os meus ócios. Seria aqui que eu chamaria os amigos para com eles apreciar os prazeres da vida.

Alfredo Saramago

A imagem corporativa e a comunicação do Hotel Praia Verde, é da responsabilidade da C&l design e arquitectura.